Transtornos mentais entre jovens profissionais

Escrito por Rudá Costa

em 14 de setembro de 2023

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O número elevado de casos de transtornos mentais indica alguns comportamentos que as empresas podem esperar de seus jovens profissionais e futuros talentos.

Transtornos mentais são condições encontradas em uma a cada sete pessoas no mundo, segundo dados publicados pela Agência Brasil, em maio deste ano. Nesta parcela, a maior porcentagem de casos de transtornos é referente a pessoas da geração Z, com idades entre 16 e 24 anos, configurando 14%.

Segundo uma pesquisa da London School of Economics, o custo de queda de produtividade atrelado a colaboradores com o transtorno de depressão custa US$78 bilhões por ano às empresas. O baixo interesse e pouca energia podem trazer problemas como o não cumprimento de prazos, falta de transparência com colegas e planejamento de projetos pouco eficientes. Outros sinais de depressão tem relação com o absenteísmo, falta de concentração, sumiço, e o desleixo da própria imagem.

Dados de transtornos mentais no Brasil

Em uma pesquisa divulgada pela Veja Saúde, 54% dos jovens brasileiros da geração Z reportaram piora da saúde mental após a pandemia. Essa mesma geração mostrou ser a que menos reconhece seus limites, e se sente bem consigo mesmo e com os outros. Além disso, apenas 14% reconhece que sabe lidar bem com as pressões do dia a dia. Outro dado relevante apontado na pesquisa, é que 26% dos jovens sentem-se ansiosos e com um grande desânimo para ações do dia a dia.

Esses dados mostram o quanto a nova geração precisa estar mais aberta a discussões de saúde mental para encarar suas dificuldades do dia a dia, mesmo encarando preconceito das gerações mais velhas. Psicólogos explicam que a maior aceitação do assunto pode vir de hipóteses como a complexidade e velocidade das informações, principalmente com a distorção da realidade trazida pelas redes sociais.

Além dos dados de jovens, o Datafolha concluiu que quase 10% das mulheres brasileiras também são mais suscetíveis a problemas mentais. O que se analisa são as causas para esses números, que podem ser mostrados em divergências sociais e culturais. Um exemplo disso, pode ser a carga de trabalho de mais de 7,5 horas a mais do que os homens na semana. Isso se deve ao fato de sua dupla jornada de trabalho, entre emprego e casa, além das pressões estéticas e comportamentais postas à elas, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

O número elevado de casos de transtornos mentais indica alguns comportamentos que as empresas podem esperar de seus jovens profissionais e futuros talentos. 

Características de transtornos mentais

Dentre alguns sentimentos relatados em pesquisa divulgada pela BBC, a geração Z tem a tendência à baixa auto-estima, incluindo a sensação de serem pouco inteligentes, e terem baixo interesse e energia nas atividades do dia a dia. Além disso, muitos sentem a necessidade de se compararem aos colegas, assim como o imediatismo para já conquistarem frutos em suas carreiras profissionais.

Muitos desses profissionais, acabam encontrando algumas frustrações em suas jornadas profissionais, por isso, muitos acabam com sua saúde mental debilitada.

Depressão ≠ Burnout

As empresas devem ter cuidado ao interpretar comportamentos de colaboradores. É muito comum confundir sintomas de depressão com a onda que dominou o ano de 2022 do Quiet Quitting, ou até o Burnout. Dessa forma, a empatia e resiliência devem ser mais fortes que o estigma. As empresas devem tomar responsabilidade para entender como as suas culturas podem ajudar os colaboradores.

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Transtornos Mentais: como as empresas podem ajudar?

A pesquisa realizada pela Mind Share Partner ‘s Mental Health, entendeu qual a responsabilidade que os colaboradores mais esperam das empresas. Com 1500 trabalhadores entrevistados, o principal ponto reconhecido tem relação com a criação de campanhas de conscientização sobre saúde mental. Outros tópicos se referem à informação da disposição de recursos, e a empatia com esses colaboradores. 

Em entrevista à Você RH, Soraya Bahde, Chief of People & Transformation Officer da Alelo, conta que “Nem todo funcionário tem repertório para entender pelo que está passando e buscar uma terapia fora da empresa”. Além de fornecer esse repertório, as empresas também têm a responsabilidade de guiar os colabores que têm colegas com transtornos mentais a serem mais empáticos. 

Outro problema que a força de trabalho vem enfrentando é em relação ao compartilhamento de transtornos mentais junto às empresas. Muitos recrutadores acabam não recomendando o compartilhamento de diagnósticos psiquiátricos em entrevistas de emprego, por exemplo. Outro exemplo, é a relação feita geralmente entre depressão e a diminuição da produtividade esperada. Muitas empresas podem minar a possibilidades de crescimento de colaboradores por terem certas concepções, o que é considerado uma violência à saúde laboral.

Esse estigma acaba gerando mais problemas para a relação das empresas com seus funcionários. Nas piores das ocasiões, pessoas com transtornos mentais podem ocultar suas condições, mentir sobre sua produtividade, e mascarar seus sentimentos. Alguns já sinalizam seus sentimentos e até contam pouco sobre suas condições aos colegas de trabalho. E na melhor das hipóteses, o colaborador pode ser transparente e até ser um ativista da causa no ambiente corporativo. Para isso, ele deve sentir que aquele ambiente é acolhedor para ele.

A Stratview separou algumas ações que as empresas podem adotar no tratamento de transtornos mentais de seus colaboradores.

Treinamento da liderança

Para facilitar o diagnóstico e tratamento, os líderes devem estar preparados para identificar traços de transtornos mentais em suas equipes. Além disso, devem se mostrar acolhedores a qualquer assunto relacionado à saúde mental, sem estigmas e preconceitos. É mais provável que os colaboradores que se sentirem acolhidos, tratem de seus problemas com o seu gestor direto antes de acionar o RH. 

Horário Flexível

Todas as pessoas se sentem mais cansadas do que o normal, um dia ou outro. Pessoas com depressão ou ansiedade podem ter um padrão de atividade mais condicionado aos acontecimentos do seu dia-a-dia, ou até terem crises baseadas em gatilhos. Além disso, por lei, todos têm o direito de saírem de seus expediente para realizar consultas médicas, por exemplo. Então por que não basear o serviço ao trabalho entregue e não necessariamente ao tempo trabalhado?

Trabalho em equipe

Pessoas com depressão tendem a se isolar cada vez mais de grupos sociais. Por isso, é essencial que as empresas prezem pelo trabalho conjunto, ou em debates de temas que não sejam relacionados apenas ao trabalho. Isso irá gerar um sentimento de confiança e pertencimento entre a sua equipe.

Divisão de projetos

Segundo a matéria da Você RH, “a depressão pode afetar as funções cognitivas do colaborador”. Por isso, vale dividir os projetos da área em várias partes, para que exista o sentimento de conquista após a finalização de cada etapa. Isso é a base teórica de várias metodologias ágeis aplicadas às empresas.

O mês de Setembro é conhecido pela campanha mundial de combate ao suicídio. Um em cada 100 óbitos tem como causa o suicídio, enquadrando a ação como uma das principais causas de morte no mundo. Dentre tantas outras causas, a depressão é o primeiro sinal de para se cometer suicídio.

Movimentos laborais no combate de transtornos mentais

Diversos movimentos laborais foram criados na tentativa de criar o padrão de trabalho mais ideal a cada contexto relacionado à saúde mental. 

Como vimos, o trabalho tem diferentes significados entre as gerações. Se entre as gerações mais antigas o trabalho era o que definia o valor de uma pessoa, vimos a sua prioridade em relação a ele. Já para as mais novas, o trabalho é apenas uma parte de suas vidas. 

Durante a pandemia, movimentos como A Grande Resignação ganhou forma nos Estados Unidos e depois no Brasil. O termo se refere a onda de pedidos de demissão em busca de melhores salários, flexibilidade e qualidade de vida. 

Nos países asiáticos, jovens questionam os valores tradicionais do trabalho carregados por suas famílias. O Tang Ping é traduzido para algo semelhante a “ficar deitado”, movimento que busca uma rotina mais tranquila e evita competições vorazes em busca de trabalhos em grandes empresas.

Outro movimento que ganhou muita repercussão ultimamente se chama “Lazy Job”. Ele também é um movimento que busca trabalhos menos estressantes. Iniciado no TikTok, a rede social do momento para geração Z, o termo ganhou notoriedade ao dar voz a pessoas que buscam equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Além disso, somando o aumento do valor de subsistência com salários baixos e rotinas de trabalho exaustivas, vemos que os jovens querem uma rotina mais alinhada com a sua realidade e saúde.

Mais do que falar, a nova geração toma atitudes para cuidar da sua saúde mental. Esses movimentos ao redor do mundo apontam uma tendência nos modelos de trabalho e nos profissionais do futuro.

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